O abismo se abre diante de mim, eu gostaria de falar a respeito de minha timidez de estar sob o seu olhar, poderia ser até algo bonito de ser dito, mas agora eu não posso, agora eu não consigo, porque diante de meus pés se abre um abismo e eu sinto medo. Sinto muito medo de não conseguir dar esse salto, sinto muito medo dos monstros que estão ali embaixo prontos para me devorar.
Vejo-me como um brilho opaco, o peito dói em saber que meus anseios podem ter escorridos pelo ralo enquanto eu tomava banho, ou que se perderam enquanto eu me contemplava diante do espelho. Sinto meu estômago doer e meu sorriso é opaco. Eu estou amedrontada e olho novamente para o abismo que se faz presente.
Eu preciso estar inteira e confiante, eu preciso desejar, saber, saber desejar e permitir, mas eu sinto tanto medo desse salto, eu sinto tanto medo de ficar presa aqui e tudo parece ficar tão escuro de repente e meu opaco sorriso se apaga de uma vez. Há uma voz que grita que eu devo ser otimista, que eu devo pensar positivo, que eu tenho que acreditar. Mas, onde está minha força?
Por que eu não sonhei essa noite? Por que me sinto cega nessa escuridão? Por que eu sinto frio? Por que o sol não brilhou hoje? Eu devo permitir, eu sei que devo. Não sei como, nem porquê, não sei sobre nada novamente e tudo estava tão certo, não fosse esse abalo sísmico, não fosse minha decisão antecipada, talvez este abismo não estivesse aqui.
E enquanto eu choro sentindo-me fraca, acorrentada e cega por causa dessa escuridão, um anjo toca em meu ombro, ele sussurra que sou capaz e que isso é realizável. Eu sinto medo e fecho meus olhos, mas o anjo ainda permanece ao meu lado e ele diz que sou capaz e que é realizável.
Por que não me lembrei do sonho desta noite? A mensagem era muito dura? “Permita, permita-se arriscar e saltar” - o anjo repete. E isso não seria fé? Ou isso é acreditar? Por que não abro meus olhos? Talvez o buraco não seja tão fundo assim e ainda que eu caia, eu estarei em outro lugar e não nesse. Então por que estou com medo?
“Permita acontecer!” - o anjo diz mais uma vez e sinto que está impaciente. Pensei que anjos fossem pacientes, bons e prestativos. E agora eu penso que sou fraca e agora eu estou feia. “Permita acontecer!”. E eu já não tenho mais no que me agarrar, dou um passo adiante, tento enxergar alguma coisa lá dentro do abismo. Nietzsche maldito! “Quando você olha para o abismo, o abismo olha para você!”
Dou vários passos para trás. Não há nada aqui e não há no que se agarrar, eu não vejo outro caminho, não vejo outra solução. Posso ouvir minha respiração, posso sentir o suor escorrendo em minha fronte, sinto o cheiro do medo, mas eu devo, devo permitir, porque eu decidi vencer aqui, decidi que vou conseguir. Corro para pegar impulso e salto...
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